quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O MAIOR ESPECTÁCULO DO MUNDO

O MAIOR ESPECTÁCULO DO MUNDO

O circo é, de facto, o maior espectáculo do mundo. Indeed, it is. Obviamente não me estou a referir àquele circozito de Carnaval, ou de Natal, ou da Páscoa, ou de qualquer época festiva que proporcione férias escolares ou um fim de semana comprido, antigamente acampado no Coliseu dos Recreios, na Praça de Touros do Campo Pequeno, ou naqueles terrenos contíguos à Gare do Oriente que outrora serviram para depositar toda a trampa nuclear gerada por toda a galáxia, e foram reabilitados à posteriori para a construção de mais uns mastodônticos lotes de habitação de luxo com acabamentos à-lá-Bairro-do-Cambodja.
O circo moderno, cujo exemplo poderá ser o “Cirque do Soleil” (aquele que acompanhou a passagem de ano na televisão pública) é de deixar um gajo habituado ao Circo Cardinalli ou ao Circo Chen de boca aberta, como se de um boi a olhar para um palácio se tratasse.
É um daqueles casos sobejamente conhecidos de “qualquer semelhança com … é pura coincidência”, bastando substituir os “…”por um dos exemplos supracitados.

A primeira coisa que salta à vista é a total ausência de qualquer tipo de apresentador ou speaker. Os artistas surgem naturalmente uns após os outros, com um timing, tanto de entrada como de saída, absolutamente impecável. Não há cá gajo de bigode e cabelo tão empastado em brilhantina que até encandeia os trapezistas, a relatar o espectáculo (como se isso fosse possível) com tiradas do género:”E agora (rufam os tambores), na Roda da Morte, os irmãos Karamachov!”…ligeira pausa para aumentar tensão…”Cuuuuuuuuuuidado Marlene…É um salto inéééééééedito no Mundo, e, provavelmente, em Portugal. A vida do teu irmão está nas tuas mãos…Qualquer hesitação pode ser a morte de aaaaaaambos”…Rufam os tambores, seguidos de um breve clímax de tensão …e depois uma explosão de palmas e música tocada pela fanfarra estrategicamente posicionada por cima da entrada no palco. É o auge, o público vai à loucura, centenas de crianças e adultos riem à parva e batem palmas porque ouvem toda a gente a fazê-lo, dando por bem empregues os 350$00 que deram à entrada pelo bilhete ou então dando graças ao colega de serviço que conhece o motorista da secretária do administrador, e puxou uns cordelitos para arranjar uns bilhetitos para o circo.

No “Cirque du Soleil” os animais não têm aquele olhar triste e vazio característico dos seres em cativeiro, mas são todos majestosos e ferozes. Os leões parecem mesmo reis da selva, e não bêbados com cirrose hepática já em fase terminal. Rugem, montam-se nas leoas, tentam arranhar tratador, tentam abocanhá-lo, atacam a jaula com se fossem devorar ao almoço a malta das primeiras filas, dão grandes saltos e no fim saem de palco sem soltar sequer um peidito ou um fiozito de baba, no auge da sua dignidade. É a Natureza em todo o seu esplendor. Ah leão!
Por cá, é certo e sabido que tigre que é tigre, a primeira coisa que faz quando entra em palco, é urinar e largar um pastel de bacalhau bem no centro do foco luminoso, como se dissesse “Vamos lá a despachar que estou-me a cagar para vocês, quero é paz e sossego”. Os animais arrastam-se dum lado para o outro, de parvoíce em parvoíce, ao longo de 15 penosos minutos, dando a aparência de terem tomado 23 embalagens de Valium e 18 de Xanax, acompanhadas por uns golitos de Sheltox, que é só para acalmar, como diz o domador. Pudera, só mesmo com a ajuda de medicação forte é que é possível suportar um quotidiano tipo jaula-arena-jaula-arena-jaula-arena…Por fim, quando os animais saem, ou melhor, fogem do palco, a sensação de alívio é absolutamente geral, não pelo facto de ter passado o perigo (nunca deu essa sensação), mas sim por não ter falecido nenhum felino em palco de intoxicação com sedativos ou simplesmente de velhice.

O domador é normalmente a mesma pessoa do apresentador, ou então um parente próximo, tipo cunhado ou genro, que normalmente anda a comer a gaja boa da companhia de circo, provavelmente a trapezista ou a contorcionista, 20 anos mais nova do que ele, e tem uma sociedade num bar manhoso ali para o lado do Cais do Sodré, onde conheceu a esposa, que é a sua partenaire de cabelo oxigenado e maiot 2 números abaixo do seu tamanho.
Por seu lado, os artistas do “Cirque du Soleil” são todos malta que tem estampa para participar num daqueles anúncios dos iogurtes magros que produzem corpos incrivelmente proporcionados e musculados, trajados duma forma inacreditavelmente prática e ao mesmo tempo luxuosa. Por mim, podiam sair dali direitinhos para o casamento do Rainier e da Carolina do Mónaco, com os penteados e tudo.

No “Cirque du Soleil” não há cá lanchinho com Caprissone, queque de chocolate, chupa-chupa com corante vermelho e balão. Pelo andar da carruagem, o lanchinho deve ser um buffet de 4251353155 mesas e respectivos empregados a falarem três línguas fluentemente, com caviar, champagne, queijos, marisco e vinhos do melhor que há.
É que nem o cheiro é diferente. Enquanto que no Circo Chen o cheiro é uma fina mistura de trampa de animal, vomitado da sessão da manhã e perfume da Feira do Relógio, no “Cirque do Soleil” não cheira a nada a menos de 350€ o ml. À excepção das bufas da realeza, pois cagões, todos somos.

Enfim, acrescento apenas que durante as duas horas de emissão do espectáculo fiquei absolutamente grudado aquilo, e foi de facto o maior espectáculo do mundo.
O mais estranho é que quando terminou, dei por a pensar coisas do género “Hum, à quanto tempo já não vou ao circo” e “Epá, tenho mesmo saudades do belo Caprissone de laranja e do queque de chocolate rançoso”, ou então “Ah, aquela cena mais velha que o cagar do palhaço esperto e sério, e do palhaço pobre e engraçado até era engraçada”…Vá-se lá entender isto.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

"Sr. Bentley, O Enraba-Passarinhos"

"Sr. Bentley, O Enraba-Passarinhos"

… é nada mais nada menos do que o título do mais recente manuscrito de Ágata Ramos Simões. À venda em qualquer livraria Bertrand, atraiu a minha atenção duma forma quase magnética, ao vê-lo orgulhosamente exposto numa das montras em pleno Centro Comercial das Amoreiras. Afinal não é todos os dias que se vê as palavras “enraba” e “passarinhos”, exposta numa das mais respeitadas livrarias, num dos mais finos espaços comerciais, numa das mais chiques zonas de Lisboa. Matutei durante algum tempo sobre este facto, tendo concluindo, com alguma surpresa, o seguinte:
  • Se fosse no Centro Comercial Oriente, localizado em pleno bairro de Chelas, junto às antigas instalações da APEC, onde a malta ia fazer os exames de condução, o livro chamar-se-ia, com certeza, " Peugeot-106-XSI-com-autocolante-da-Alpine-no-vidro traseiro-e-galhardete-do-SLB-pendurado-no-espelho-retrovisor, O Enraba-Passarinhos".
  • Alguém plagiou capítulos da autobiografia do Bibi e está a tentar enriquecer à custa desse tipo.

Atenção, para aqueles menos ou mesmo nada argutos, realço que o livro não versa nem sobre Tunning, nem sobre consumar prazer físico com pitas, nem sequer sobre ambos os assuntos em simultâneo (isso é que era o delírio, como é que ainda ninguém se lembrou dessa?).
MAS, se mesmo assim estiverem interessados em saber sobre o que trata este livro (não tem fêmeas, não tem carros, nem sequer umas imagens lá pelo meio para animar a malta, então qual é o interesse…), procurem no sapo e leiam o capítulo que se encontra disponível.